«Faço este balanço para quem pensa iniciar esta jornada através da “APOIAR 100 limites”, mas também para mim. Nunca tive o hábito de escrever “diários “e sei quantas recordações “perdi” ou não estão tão presentes. Aqui em Lisboa parece que há tempo e espaço para isso. Dondo é uma cidade tão vibrante, nem acredito que escolhi esta palavra para descrever como sossegada. Há barulho constantemente. Os carros e motos são conduzidos rápido, o pó é constante, as pessoas para cima e para baixo, o homem que vende ovos, o homem que vende coca-cola, que nos diz bom dia a cada minuto e que quer saber como estamos e para onde vamos, crianças a andar e a vender comidinhas que tem o calor do sol e o pó do ar como ingredientes principais. O camião que para para descarregar sei lá o quê. A correr, parar e gritar… e o calor. Sempre calor. Tive sorte de ser acompanhado quase sempre pelo vento. Há alguns chineses. Imensas igrejas"alternativas"! Não é uma cidade bonita mas, para mim, também não é feia. A verdade é que ainda não a conheço como gostaria.
No geral é um povo bonito. Quase que não encontrei ninguém “feio”! Quando te dizem “sim sim sim” é porque não estão a entender ou a ouvir. Confirma sempre! Gostam de responder com “sons” tipo “hm” que pode ser sim ou não. Dizem “nada” em vez de “não” (já foste às compras? Nada). Dizem nice (em vez de fixe) e outras inglecices – ,tipo jobar (trabalhar). São alegres e bem dispostos. Ouvia mulheres dizerem algo que as portuguesas nem sempre dizem “às vezes preciso de tempo só para mim”, ou “só para estar com as minhas amigas, ou só para estar com o meu marido”. A maioria dos locais de classe média ou até média baixa, ainda não sei,tem alguém em casa a ajudar para limpar e cozinhar, etc. Tem diferentes religiões e alguns até se convertem para outras e são todos amigos, sem ver isso como uma diferença. Não se vê muitas demonstrações de carinho na rua. É possível ver homens a andar de mão dada, sinal de irmandade/camaradagem. Também dançam uns para os outros, tipo competição (saudável) e é delicioso! Há uma grande diferença entre províncias: tudo muda,o papel da mulher, do homem, da relação, da família, da poligamia, do casamento, da gravidez, do luto, etc. Li um livro da Paulina Chiziane (Niketche Uma história de poligamia) que descreve isto muito bem.
Conheci boa gente por lá a fazer a diferença! Senti me bem no Dondo. Sinto, antecipadamente, que vou precisar de mais rede de conhecidos/amigos e coisas para fazer e estou a mover energias e esforços nesse sentido. E sim, claro, às vezes bate a saudade. E a vontade de estar com alguém tão vivo como os moçambicanos. Também antecipadamente sinto saudades de algumas africanices de organização, comunicação, planeamento, água, internet, etc. Por enquanto, até agora sinto que foi uma experiencia, que se irá manter. Tenho muita vontade de explorar o resto de moçambique e conhecer as suas maravilhas e já estou a tentar fazer acontecer. E é isto, por um mês»