Testemunhos dos Voluntários
Gonçalo Monjardino
Numa manhã que de rotina tem pouco, após matabichar ( tomar o pequeno almoço dito num dialeto local) embarcamos no chapa a caminho da obra.
Apesar da estrada esburacada e dos lugares apertados,o caminho faz-se bem com grande alegria por parte de nós os vuntários. Ainda que seja demorada dá nos tempo para prepararmos e organizar-mo-nos para o dia que temos pela frente, sem nunca faltar uma música de fundo.
Chegados a Nhampuepue, cada grupo assume o seu posto, uns pintam, outros constroem e ainda há um grupo que recolhe materia prima para os tijolos serem feitos.
Hoje foi o meu dia de construir, tal como ontem, juntamente com o voluntário Chagas e o mestre Meque, que é um local da Beira. Ontem Enquanto construímos íamos aprendendo mais sobre a vida de Meque, descobrimos que tinha uma mulher e dois filhos tendo abdicado do seu sonho de concluir os estudos, para conseguir sustentar a sua família. Os rendimentos não são muitos mas sim quase suficientes, isto porque Meque acabou por nos dizer que não toma o pequeno almoço e que apenas vai para casa ter com os familiares aos fins de semana porque "não há condições".
Hoje após algumas horas de trabalho vejo Meque a falar com uma menina dos bolos, que eu assumi como sua conhecida, e ofereceu um bolo a nós e a mais 5 crianças e não é que eu sou apanhado completamente desprevenido quando descubro que ele não só não a conhecia como ainda teve que pagar a conta. Foi com este ato que eu me apercebi da grande generosidade e hospitalidade deste povo que está sempre alegre apesar de todas as razões que têm para não estarem.
No caminho para casa reflito, atento à paisagem, aos cheiros e a pensar no ato de Meque e chego à conclusão que é nesta terra que me sinto em casa e é aqui que um dia serei feliz.
E é com esta alegria que me junto ao resto do grupo e dizemos "Eh Margarriida".
Pedro Menéres
Apesar de cansados, já depois de quase 2 semanas de trabalho a construir cada uma destas 18 casas, que em breve irão abrigar varias famílias moçambicanas, seguimos para mais um dia de trabalho no bairro de Nhampuepe.
Um dia de trabalho como todos os outros que já tivemos mas que, de certo modo, me surpreendeu. Não só pela simpatia das pessoas com quem trabalhámos esta semana, mas pela alegria que nos mostram quando chegamos e pomos as mãos à obra!
Entre várias piadas, brincadeiras e conversas que temos durante a manhã (que conciliamos com um bocadinho de trabalho claro 😂) dou por mim a trabalhar com um senhor ao lado! Sim, um verdadeiro senhor! É que quando lhe pergunto o nome diz me que se chama Ernesto e quando lhe pergunto a idade diz que ainda é jovem - tem 63 anos...
Fiquei, por isso, atrapalhado logo de início sem saber se lhe devia tirar a enxada da mão (e proibi-lo de trabalhar) ou de lhe dizer que não precisava de ajuda e que ele podia ir para casa descansar. De resto, uma coisa que teria mesmo feito, não fosse ele cavar com uma vontade e com uma intensidade tal que correspondiam mesmo à de um jovem de 20 anos!!
Uma lição porque ele fez o trabalho que estava destinado para um dia inteiro em poucas horas, sem pausas nem interrupções, e ainda nos foi contando toda a sua vida. Falou de como, apesar da sua casa feita apenas de paus, terra e água ter ficado destruída pelo ciclone, ele ali estava pronto a meter mãos à obra para a ajudar a sua comunidade. No final despediu-se de nós com um sorriso na cara agradecendo-nos tanto pela nossa ajuda!
Este é um dos vários exemplos de histórias de muitas das pessoas que se têm cruzado connosco e que apesar de todas as dificuldades que passavam diariamente e que se agravaram com o ciclone não desistiram e continuaram a lutar pela suas vidas e pela das suas famílias esforçando-se sempre ao máximo para lhes dar o que nós, em nossas casas, tantas vezes tomamos por garantido!
Sophie Booth
Há sítios e pessoas que nunca sequer imaginamos, nem mesmo em sonhos.
Viemos para cá com o intuito de mudar algo, bloco a bloco, conversa a consolo.
Hoje, contudo, em vez de nos darem tintas e cimento, deram-nos ferramentas para uma utopia possível, um exemplo. Não trabalhamos diretamente com a comunidade mas obtivemos mecanismos para empodera-la e erguê-la de acordo com esta terra.
Após mais uma viagem na via que eventualmente dá a Nhampwepwe, atrás da nossa mulher em ação - a Mércia - onde o ar é denso em carvão, a terra é árida e a nossa posição de certo modo assimétrica aquela pobreza, demos de caras com uma selva autêntica - um oásis na calamidade, uma catapulta da inércia que perpetua a miséria - Mozambite.
O mais resumidamente possível, é um projeto de um auto-entitulado “gentleman farmer” - o Allan - ou como eu gosto de chamar; um “green warrior”. Em 1994, este titã do ambiente começou um projeto de reflorestamento e agricultura sustentável/orgânica que visa contrariar um dos problemas mais prementes do nosso tempo - a desertificação - no caso de Moçambique devido à prática de “slash and burn” que desprovem o solo de nutrientes essenciais à subsistência. Para além de integrar a comunidade local neste projeto, o Alan também introduziu técnicas de aproveitamento de bens materiais autóctones - nomeadamente madeira - tendo ensinado técnicas de marcenaria, carpintaria e construção à população como modo de sustento (é de sublinhar que não mandam uma árvore abaixo há mais de 6 anos).
Na parte da tarde, após mais um mimo de almoço feito pela mamã Olinda, a Teresinha e a Binha converteram-nos de novo em modo “sardinha” no chapa e levaram o grupo rumo à Mafarinha - um bairro pobre situado atrás da fábrica da Mozalite - onde demos de caras com a bolha da nossa própria vivência.
Entre lixo e latrinas, matope e galinhas, acenos calorosos aquela nossa presença alienígena, pulsamos pelas veias da Mafarinha. Eventualmente chegamos a casa de um dos funcionários da fundação - o Luis Bonito - que nos mostrou a casa onde vivia . Foi um momento importante no sentido em que como é a vida “celular” de um moçambicano com o qual convivíamos todos os dias. A melhor maneira que tenho para descrever o contraste do panorama deste dia é que fomos transportados de uma visão telescópica para uma ótica microscópica de Moçambique
Duarte Blanc
Antes de partir nesta missão a Moçambique foi-me dito inúmeras vezes que iria aprender mais do que eu iria ensinar, na altura achei irrisório, mas agora que voltei, percebo aquilo que me diziam.
Não me resta senão agradecer. Agradecer a todas as pessoas por quem passei, por me ensinarem a viver na simplicidade de alma e despojamento de qualquer bem material que nada me acrescenta como Ser.
É recorrente, ao embarcar numa missão como esta, pensarmos nela, de uma forma egoista, como algo que será bom para mim, para eu crescer e para trazer algo de bom para aquela comunidade. Mas para tal acontecer, é imperativo ver a vida da perspetiva deles, colocarmo-nos na visão da vida como eles a têm, só assim poderemos fazer a diferença.
Falam na dificuldade e força de vontade que é preciso ter para partir numa aventura como a que acabei de viver, mas é irrefutável viver este mês com a máxima de dar sem receber em troca, mudarmos sem os mudar e entregar-nos sem nos perdermos e agradecer a maneira como fomos recebidos é, no mínimo, gratificante.
Inês Fernandes
São as experiências que formam e fazem uma pessoa, são aqueles momentos que aquecem o coração que guardamos para sempre, é o sair da nossa zona de conforto que nos faz crescer, é o contacto com outras culturas, outras pessoas que nos alarga os horizontes e nos faz trazer muitas histórias para contar. Para mim, isto foi Moçambique.
Foi uma experiência única em que percebi que basta dar o nosso tempo, a nossa paciência, e acima de tudo partilhar quem somos para fazer a diferença. Não, não mudamos o mundo de Todos. No entanto, podemos mudar o mundo de Alguém e isso é quanto basta para deixarmos uma marca por onde passamos. Trabalhei mais próximo do projeto Mayi, e tive a oportunidade de conhecer mamãs incríveis, com imenso interesse em ouvir e aprender com o que nós tínhamos para dizer. Foi em equipa, e conhecendo as mamãs do Dondo que conseguimos adaptar o plano das formações e assim deixar uma marca na saúde materno-infantil.
Se custou passar Agosto inteiro a acordar às 6:30, custou; se custou usar repelente como creme hidratante, sim; se houve dificuldades, momentos de desânimo ou de completo improviso, houve; mas não faria sentido se nada disto não tivesse existido. Não foi um “mar de rosas” e ainda bem, porque para além de nos ter aproximado enquanto grupo, também foi o que nos mais fez crescer.
Moçambique foi dar de mim (desde os cabelos para as tranças, à energia para no final do dia adormecer profundamente) mas, a receber muito: sorrisos das mamãs; poemas, desenhos, cartas e músicas; abraços apertados das crianças; e tanto mais...
Guardo para sempre esta experiência incrível com um grupo de pessoas espetacular. Lembro-me muito de todos aqueles com quem cruzei caminho e que de uma maneira ou de outra me ensinaram a ver a felicidade na simplicidade e me mostraram que um país pobre pode ser muito rico.
Temos sempre muito para oferecer, mais que não seja a nossa presença; temos sempre muito para aprender, até e principalmente com quem achamos que não tem nada para nos ensinar; temos sempre muito a agradecer; e é quando quebramos as nossas barreiras e damos o nosso máximo que sentimos um cumprir de missão.
Carolina Sotana
Quando percebi que fazia parte do grupo de voluntários que iria para o Dondo em Agosto de 2018, senti-me uma sortuda, mas a verdade é que ainda não sabia o quão sortuda era! O mês como voluntária foi uma experiência tão incrível que a palavra “incrível” não é suficiente para a descrever!
Impossível pôr em palavras o que Moçambique me fez sentir, foram vários momentos de aprendizagem, partilha, carinho e de felicidade pura! Vivia na simplicidade e, com isso, aprendi e fui feliz, muito feliz! Aprendi a valorizar coisas que, em Portugal, por me sempre terem sido garantidas, não lhes dava a importância que dei no Dondo, coisas tão simples como ter uma cama para dormir e comida para comer sempre que tenho fome, por exemplo. Aprendi a relativizar os problemas. E aprendi imenso no projecto onde estive inserida, o MAYI! Não foi fácil ao início, porque a vontade de fazer alguma coisa importante conduziu a frustração e a dúvidas sobre qual seria o meu papel ali, mas a pouco e pouco fui conhecendo as mamãs e os formadores, o seu ritmo, a maneira como falam, as suas crenças, adaptei-me sempre que surgiram mudanças de planos, aprendi a simplicar temas complexos e a desmistificar mitos que vêm já de gerações passadas sem criticar e fui sentido os frutos do trabalho a aparecerem. Saí da minha zona de conforto, fui desafiada e compensou imenso! É maravilhoso o que recebemos quando abrimos a nossa mente e o nosso coração ao outro.
Obrigada Dondo, obrigada Moçambique, obrigada África! Obrigada aos outros voluntários e à Teresinha, a minha família moçambicana, que tornaram esta experiência ainda mais incrível, sem eles não teria tantas histórias para contar, sem dúvida! E um obrigada ao povo moçambicano por ser um povo tão hospedeiro, tão simples e tão alegre e por me ter mostrado tanta riqueza no meio de tanta pobreza!
Agora, já em Portugal, o desafio é impedir que a rotina e as obrigações do dia-a-dia me façam esquecer tudo o que o povo moçambicano me ensinou. As saudades já são imensas!
Carminho Monteiro
Sempre sonhei viver num mundo em que todos têm o que merecem. Mas ao invés disso sinto todos os dias as vincadas desigualdades sociais e o preocupante flagelo que é a pobreza absoluta. E por isso decidi embarcar nesta missão, descalçar os meus sapatos e tentar oferece los a quem não os tem. Viajar 8000 quilómetros e partilhar com a comunidade do Dondo tudo aquilo que toda a vida me deram como garantido. Mas muito mais do que dar, recebi. Recebi amor de coração aberto, pessoas a quererem aprender, a quererem ensinar. É realmente impressionante a cumplicidade tão forte que se constrói quando nos abrimos aos outros e nos deixamos ver de igual para igual. Deixei-me viver genuinamente com eles e ao ritmo deles, sem fazer imposições, ouvindo, sugerindo e devagar devagarinho vamos deixando a nossa marca. A minha marca ficou na escolinha da fundação, onde em concordância com as capacidades das educadoras, e não fugindo ao que estavam habituadas a fazer propus, em equipa, um plano anual pormenorizado que abordasse os temas mais importantes. Nada melhor do que jovens criativos, divertidos e motivados para deixar um pouco de si, para que se consiga ter impacto. E essa garra conquista-se, há sempre recaídas, momentos em que pensamos que podíamos dar tudo àquelas crianças e na verdade não deixámos nada comparativamente. Mas a força está em perceber que o melhor que podemos dar é entregar-mo-nos de corpo e alma à missão. Enquanto missionária, procurei sempre entregar-me ao que me foi proposto e comprometer-me com a responsabilidade de atuar onde e em quem precisasse de mim. E assim chego a Portugal, confiante do que quero para mim e para o meu futuro, do que quero continuar a fazer e de que maneira fazer. Encontrei-me sem sequer ir à procura de mim.
Margarida
«Antes de partir para Moçambique, a pobreza e a realidade de África eram algo que tinha em consciência, mas sempre com uma distância de segurança que não me deixava realmente envolver. Por isso, em Agosto, decidi arriscar e ir em missão com o desejo de me entregar, conhecer e aprender.
Na verdade, acabou por ser um mês muito marcante, cheio de desafios, exemplos de fé e simplicidade, que pouco a pouco foram mudando a minha vida! Talvez porque me desinstalaram...
Mas o que mais me tocou foi, sem duvida, a alegria genuína e contagiante que encontrei naquelas pessoas que vivem entre a pobreza e grandes dificuldades, mas com uma riqueza de espirito e coração enormes. A forma como nos deixaram entrar nas suas vidas e nos confiaram as suas histórias e preocupações ao longo do mês que lá estivemos foi de facto uma enorme graça.
No entanto, ao longo do meu trabalho num projeto com um grupo de adolescentes moçambicanas, foi-me bastante difícil aceitar a desigualdade entre o homem e a mulher e o futuro tão condicionado destas raparigas. Foi essencial ter o cuidado de não cair na tentação de impor a minha cultura ocidental, apenas dar a conhecer uma opção e caminho que essas raparigas também podem tomar.
De volta Portugal, a realidade de África, de Moçambique, deixou de ser algo distante e pouco palpável. Passou a ser uma realidade que conheci, vivi e a cima de tudo a que associo caras, nomes, histórias, amizades, sorrisos e grandes exemplos a segui»
Mafalda B.
Durante toda a nossa vida ouvimos falar da “pobreza de África”. Sabemos que existe, sabemos que algures do outro lado do mundo, a 7888km de distância, existem crianças a quem nem é dada uma oportunidade. Em Agosto de 2017 decidi ir conhecer um bocadinho melhor esta pobreza. O que vivi durante este mês no Dondo foi uma experiência inacreditável de
entrega, serviço e desprendimento. Fui desafiada a dar de mim como nunca tinha dado, deparei-me com uma realidade e uma mentalidade, que muitas vezes me chocaram e revoltaram, mas, acima de tudo, deparei-me com uma alegria contagiante. Uma alegria que não olha a bens materiais, que vive da simplicidade, uma alegria que sei que regressou comigo para Portugal. Aprendi que é preciso saber relativizar os problemas, que os frutos nem sempre são visíveis no imediato e que as pessoas são muito mais do que a realidade que as rodeia. Agora que voltei à
rotina, dou por mim a viajar outra vez até àquela pequena vila do Dondo, ao mercado, à Igreja, às salas de aula, ao telheiro onde era servido o almoço. Dou por mim a pensar nas pessoas que
cruzaram o meu caminho e que, de uma maneira ou de outra, me marcaram. Dou por mim a olhar à volta e a sentir-me verdadeiramente agradecida por aquilo que Deus me deu. Não tenho qualquer duvida que esta é uma experiência que vou recordar sempre com um carinho especial e que levarei para o resto da vida.
Gonçalo
«Faço este balanço para quem pensa iniciar esta jornada através da “APOIAR 100 limites”, mas também para mim. Nunca tive o hábito de escrever “diários “e sei quantas recordações “perdi” ou não estão tão presentes. Aqui em Lisboa parece que há tempo e espaço para isso. Dondo é uma cidade tão vibrante, nem acredito que escolhi esta palavra para descrever como sossegada. Há barulho constantemente. Os carros e motos são conduzidos rápido, o pó é constante, as pessoas para cima e para baixo, o homem que vende ovos, o homem que vende coca-cola, que nos diz bom dia a cada minuto e que quer saber como estamos e para onde vamos, crianças a andar e a vender comidinhas que tem o calor do sol e o pó do ar como ingredientes principais. O camião que para para descarregar sei lá o quê. A correr, parar e gritar… e o calor. Sempre calor. Tive sorte de ser acompanhado quase sempre pelo vento. Há alguns chineses. Imensas igrejas"alternativas"! Não é uma cidade bonita mas, para mim, também não é feia. A verdade é que ainda não a conheço como gostaria.
No geral é um povo bonito. Quase que não encontrei ninguém “feio”! Quando te dizem “sim sim sim” é porque não estão a entender ou a ouvir. Confirma sempre! Gostam de responder com “sons” tipo “hm” que pode ser sim ou não. Dizem “nada” em vez de “não” (já foste às compras? Nada). Dizem nice (em vez de fixe) e outras inglecices – ,tipo jobar (trabalhar). São alegres e bem dispostos. Ouvia mulheres dizerem algo que as portuguesas nem sempre dizem “às vezes preciso de tempo só para mim”, ou “só para estar com as minhas amigas, ou só para estar com o meu marido”. A maioria dos locais de classe média ou até média baixa, ainda não sei,tem alguém em casa a ajudar para limpar e cozinhar, etc. Tem diferentes religiões e alguns até se convertem para outras e são todos amigos, sem ver isso como uma diferença. Não se vê muitas demonstrações de carinho na rua. É possível ver homens a andar de mão dada, sinal de irmandade/camaradagem. Também dançam uns para os outros, tipo competição (saudável) e é delicioso! Há uma grande diferença entre províncias: tudo muda,o papel da mulher, do homem, da relação, da família, da poligamia, do casamento, da gravidez, do luto, etc. Li um livro da Paulina Chiziane (Niketche Uma história de poligamia) que descreve isto muito bem.
Conheci boa gente por lá a fazer a diferença! Senti me bem no Dondo. Sinto, antecipadamente, que vou precisar de mais rede de conhecidos/amigos e coisas para fazer e estou a mover energias e esforços nesse sentido. E sim, claro, às vezes bate a saudade. E a vontade de estar com alguém tão vivo como os moçambicanos. Também antecipadamente sinto saudades de algumas africanices de organização, comunicação, planeamento, água, internet, etc. Por enquanto, até agora sinto que foi uma experiencia, que se irá manter. Tenho muita vontade de explorar o resto de moçambique e conhecer as suas maravilhas e já estou a tentar fazer acontecer. E é isto, por um mês»
Mafalda R.
Vivi num mês o que ansiava por experimentar há anos… Em Moçambique pude estudar e tentar perceber a realidade de um mundo tão diferente do nosso. Vi o que é viver na pobreza, o que é comer, trabalhar e estudar na pobreza, como é ficar doente e como é tratar doentes na pobreza, como é ter bebés na pobreza, como é morrer na pobreza. Vi, acima de tudo, como é viver com tanta dignidade tendo tão pouco. E aprendi que é possível ser alegre e feliz assim. Foi um mês bem cheio: de trabalho, de experiências, de relações, de oração, de transformação. Mas também de paciência, de esforço e de muito cansaço. Foi preciso mudar de planos várias vezes, encaixarmos-nos num ritmo e em mentalidades que não são os nossos, puxar pela cabeça e pela criatividade. Foi sobretudo uma grande lição de humildade, dada por quem nunca nos pediu que lá fossemos e que reage de uma maneira diferente à que esperamos, mas que depois nos desarma com a sua simplicidade e alegria verdadeira de nos receber. Também vimos uma Igreja cheia de vida, exemplos de Fé gigantes e uma maneira mais fácil e óbvia de seguir Jesus. E, claro, fiz amigos que trago no coração: uns que voltaram comigo e outros que ficaram mas que sei que nos vamos encontrar outra vez, mais cedo ou mais tarde! E agora? Agora posso testemunhar a importância do papel das ONGs para a vida de tanta gente por este mundo fora, e para pessoas concretas com que me cruzei. Agora dou pela minha cabeça e pelo meu coração a voltarem a toda a hora para o Dondo e para a Fundação, a tentar adivinhar o que estará a acontecer, a pensar no que mais podemos nós fazer por eles. E agora voltei uma Mafalda mais encontrada e com mais certezas de por onde é o meu caminho.
Teresa
O que lá vivi foi uma intensa e espectacular jornada! Moçambique tornou-me realmente mais simples … o que lá vivi nem sempre foi fácil, e isso tornou-me uma pessoa que sabe agradecer o que tem… as pessoas com quem lá vivi são tão alegres que contagia, e isso ensinou-me que para ser alegre não é preciso ter coisas mas querer ser ! O que lá vivi foi uma união e amizade com os voluntários, educadores e crianças! O que lá vivi fez-me perceber o sentido desta frase: ” Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si e levam um pouco de nós. ” E agora ?!… Comecei as aulas, a minha rotina, sinto-me diferente e tinha medo de me esquecer de pequenas coisas que foram importantes e que fizeram com que a minha vida mudasse, mas percebi que se continuar a cultivar tudo o que aprendi lá e usar isso no meu dia-a-dia, nunca me vou esquecer ! E agora ? Não vou deixar de ajudar a fundação porque não é impossível ajudar à distância, não vou deixar de me dar com os voluntários porque passaram a ser meus amigos para a vida!
Afonso
Acordar bem cedo de manhã, -trabalhar, -ao anoitecer rezar e ir dormir. Para alguns esta rotina mata, mas na minha opinião estas três coisas foram algo que durante o mês que passei em Moçambique me deram uma paz extraordinária. Começando pela primeira coisa, acordar cedo, para mim a maior das pequenas grandes coisas, foi para mim uma bússola diária, e uma forma de treinar a minha auto-disciplina. A segunda o trabalho, foi nesta actividade que comecei a aprender a ter paciência com as pessoas, a não ser tudo como eu quero, em Moçambique experimentei a imprevisibilidade total. Tentei ensinar o máximo que pude, principalmente a nível moral, mas na verdade aprendi eu mais com as pessoas que lá conheci. Aprendi a fazer carrinhos de arames que com certeza irei ensinar aos meus filhos se os tiver! Aprendi também que lavar o chão de um hospital pode ser uma tarefa de uma grande beleza. Por último, quando chegavam os dias ao fim, quando acabava o barulho e toda a barafunda, o ouvir os grilos e olhar para um céu tão estrelado e tão pouco poluído, o sentar e rir e contar as historias que se haviam passado uns aos outros, não tinha preço possível. Rezávamos todos os dias em agradecimento e foi isto também que nos uniu muito como grupo. Quando me deitava, pensava ‘isto sim é um dia à maneira’ e logo seguir truca. Agora vim estudar para a Áustria e o mundo é outro, quero desenvolver-me mais academicamente, mas como o meu pai dizia, ‘África é um boomerang vais e queres sempre voltar’, acho que não podia estar mais certo, quero voltar. Mas… o futuro a Deus pertence
Mariana
A nossa ida para Moçambique foi uma das melhores senão a melhor experiência da minha vida.
Sem dúvida foi o mês em que mais cresci e aprendi. Dei de mim tudo o que tinha e o que não tinha e em troca recebi o mundo. Lá vivi a alegria de um povo que nada tem mas que tudo dá. Aprendi que a simplicidade é um dom e reaprendi que a gratidão e a humildade são duas das qualidade mais importantes que uma pessoa pode ter. Num mês cresci muito e agora espero continuar a aplicar na minha vida o que aquele povo me deu e me ensinou. Uma parte de mim ficou em Moçambique e espero levar Moçambique sempre comigo para onde quer que for.
Binha
O que lá vivi foi incrível, pode parecer um bocado clichê dizer que foi incrível e único e que quero lá voltar mas são mesmo as palavras que mais descrevem o nosso mês espectacular, foi incrível tanto individualmente como grupo, formamos um grupo espectacular e trabalhamos muito bem em equipa! Não tenho dúvidas que vamos todos ficar amigos para a vida e que vamos voltar todos juntos! Um mês a conhecer uma cultura diferente, pessoas com realidades e vidas diferentes, histórias de vida completamente diferentes das que nós estamos habituados, os sonhos daqueles miúdos com quem nós lidávamos e estávamos todos os dias! Vivemos 1 mês inteiro numa realidade muito diferente da nossa e do que nós estamos habituados a ver e a viver! Vivemos e conhecemos coisas muito fortes neste mês, desde ver pessoas e bebés a morrer, a bebés a nascer, a crianças a morrerem à fome, a crianças abandonadas, a transportar mortos para a morgue, a limpar o hospital onde tivemos uma semana a fazer o que fosse preciso, a doar do nosso próprio sangue para salvar vidas, a remodelar escolinhas, formar jovens e educadores, a uma felicidade do povo moçambicano no meio de tanta pobreza, a visitar bairros muito muito pobres! Tanta coisa! Tantas histórias para contar! Todos os dias convivíamos com crianças da Fundação LVida e não só, desde de manhã até ao fim da tarde! Todos os dias éramos bem recebidos em qualquer sítio onde fossemos, todos os dias tínhamos crianças atrás de nós com um sorriso de orelha a orelha e com uma felicidade gigante por nós estarmos ali! Foi 1 mês em que cresci muito, em que passei a ver as coisas com mais simplicidade e humildade e quero continuar a alimentar isso! Foi um mês em que senti Deus de uma maneira especial todos os dias em mim, no nosso grupo, em todas aquelas pessoas, em todas as coisas q nós fazíamos, em todas as histórias e coisas que víamos! Foi Deus que nos enviou e nos ajudou todos os dias! E agora?? E agora, tenho saudades de todos aqueles miúdos, de tudo o que lá vivi e aprendi, todos os dias penso em todas aquelas pessoas na sua simplicidade e alegria contagiante. Em tudo o que Deus me colocou à frente durante aquele mês, em todos os obstáculos ultrapassados. De todas as vezes que duvidei ser capaz e que a força daquele povo me fez conseguir. E agora só quero agradecer muito e dizer que vou voltar!
Miguel
Em Moçambique vivi a pobreza africana. Estamos habituados a ouvir falar da pobreza africana há muito tempo, e temos plena consciência que ela existe, mas aqui de longe não é possível percebermos o que lá se passa. É preciso ir. Lá vivi esta pobreza, falei com esta pobreza, ajudei-a, comi à mesa com ela, ri-me com ela, fiquei chateado com ela, conheci-a, e acima de tudo, aprendi muitas lições com ela. Acabei por ficar amigo dela! Em Moçambique desligámos do nosso dia-a-dia e não tivemos outra hipótese senão dar o melhor que há em nós, gratuitamente. A lidar com os problemas reais de pessoas reais. Agora, é assentar a poeira e começar a varrer a casa. São muitas as lições que aprendemos lá, que chegamos cá meio confusos. O contraste entre o estilo de vida africano e europeu é mesmo muito grande. Agora, depois de perceber que a minha vida continua e é nela que sou chamado a ser bom, tento fazer com que o que lá vivi não tenha sido em vão. Realizo que isso é tão simples como olhar para os nossos pais, irmãos e amigos e fazer o que for preciso fazer, gratuitamente, sem cruzar os braços, e com alegria! Tal como fizemos em Moçambique durante um mês. É esta a grande magia da pobreza africana: apesar da miséria, fome e doenças, ela ensina-nos a ser simples e alegres dentro dos nossos problemas! Agora que conheci a pobreza africana quero que ela volte para Portugal comigo e quero ser mais como ela!
Leonor
Vivi momentos inacreditáveis, experiências incríveis, coisas que só mesmo em África é que se vive!! Fiz coisas que nunca na vida achei que era capaz de fazer, senti Deus na minha vida como nunca antes tinha sentido! Eu pedi forças e Deus deu-me dificuldades para me fazer forte; Eu pedi sabedoria e Deus deu-me problemas para resolver; Eu pedi prosperidade e Deus deu-me cérebro e músculos para trabalhar; Eu pedi coragem e Deus deu-me obstáculos para superar; Eu pedi amor e Deus deu-me pessoas com problemas para ajudar; Eu pedi favores e Deus deu-me oportunidades. Eu não recebi nada do que pedi, mas recebi tudo o que precisava. Agora sinto falta daquela gente, daquela simplicidade e alegria constante, de acordar de manhã e pensar “O que é que Jesus vai por hoje no meu caminho? Será que vou ser capaz?”. Agora sei que nada é impossível e que nós somos capazes de tudo! Que com amor, paciência, resistência e resiliência conseguimos transformar os pequenos pormenores da vida em feitos enormes e assim mudar o mundo! Agora estou aqui, mas um dia vou voltar!!
João
Foi em 2015 que decidi por em práctica um sonho, o de fazer durante um tempo um projecto de voluntariado. A oportunidade surgiu em inicio de 2016, através da Apoiar, e assim parti para Moçambique em Maio deste mesmo ano. Estive em Moçambique por 4 meses, na Provincia do Niassa, na remota Mandimba, a acompanhar o Projecto Kukula. Sendo a educação tão importante no futuro de um País, o Projecto Kukula, está a ajudar a formar crianças que por via disso mesmo, poderão ter um dia uma vida melhor. Sem dúvida nenhuma que foi melhor do que eu esperava, pois darmos do nosso tempo aos outros, não tem preço e é sem dúvida um privilégio. É sem dúvida uma experiência que nos faz ver o mundo de outra forma, e de infelizmente nos trazer certezas do que sempre ouvimos falar: que existe muita pobreza no mundo e muito por fazer. Por isto mesmo, faz todo o sentido darmos, nem que seja pouco, do nosso tempo para ajudar a desenvolver projectos como este e outros. Todos os que tiverem oportunidade de fazer voluntariado, deveriam fazê-lo pois é muito gratificante e muda a nossa visão da vida. Talvez se todos ajudarmos um pouco o mundo possa ser um dia melhor e mais justo. Nem sempre é fácil sairmos da nossa zona de conforto, mas também isso é um teste a nós próprios e faz-nos crescer como pessoas. E como em tudo na vida, rapidamente habituamo-nos a viver noutras condições e com pouco, apenas focados no que nos trouxe que foi ajudar. Aprendi muito com o povo Moçambicano e com a sua simplicidade, e tenho muita honra de ter dado um pouco do meu tempo. Futuramente espero que o projecto possa crescer e ser replicado em outras zonas de Moçambique e quem sabe um dia, em outros Países necessitados. Agradeço á Apoiar a oportunidade que me deu, que me tornou bem mais rico, e desejo todo o sucesso neste e noutros projectos, e talvez que um dia os nossos caminhos se cruzem de novo
Laura
Ao longo dos dezasseis anos em que participei em projectos de cooperação para o desenvolvimento, realizei que tinha mais a receber do que a oferecer. Com os conhecimentos adquiridos em testemunho de uma geração para outra, povos como o Moçambicano, foram capazes de construir obras complexas que nos levariam muitos anos de estudo. O nosso papel na APOIAR? Ajudar a ordenar esses conhecimentos de forma a poder generalizá-los. A APOIAR tem sido o projecto de uma vida.